"Era perto das 10:30 da
amanhã, mas precisamente 10:27, ela estava na cozinha com seu avental
preferido, preparando nosso almoço. Eu a admirava de longe, ria dos seus
trejeitos, de suas tentativas fracassadas de colocar o cabelo para trás, com
suas mãos sujas, quando o mesmo caia em seu rosto. Falando em cabelo, o seu era
encantador. Tava cansado de a admirar e fui até lá perto dela. Ajudá-la? Não,
claro que não! Precisava atrapalhar um pouco. Caminhei sorrateiramente até lá,
ela me perguntou o que eu queria, eu respondi dizendo que não queria nada. Fui
até a panela e abri, tasquei o dedo lá dentro para experimentar. Ela deu um
grito que, confesso, me assustou. Dei uma risada disfarçada e continuei abrindo
as outras panelas e fazendo o mesmo. Ela se enfureceu e pegou a colher de pau e
correu atrás de mim para meter na minha cabeça, ela estava falando sério,
corremos pela sala até eu tropeçar e cair próximo do sofá no chão mesmo, ela
parou na mesma hora e perguntou se eu estava bem, ela era meio amarga, mas era
um doce. Seus cuidados eram o máximo, em um determinado momento ela chegou
pertinho do meu rosto para ver se eu me machuquei, juro que naquele momento eu
iria beijá-la, quando o cheiro forte de queimado a distraiu e a fez correr até
a cozinha. Ainda bem que era só a panela vazia que ela havia colocado para
fazer o macarrão. Em questão de minutos ela terminou o almoço. Abri um vinho
que gostávamos e almoçamos. Eu poderia pedir pra namorar, ou pelo menos pra
ficar, ou mais ainda pra ela ser minha esposa... Mas acho que o destino não
quer nos permitir isso, queremos, mas algo nos impede. Minha mente pensava tudo
isso, quando uma voz lá no fundo me obrigava a lavar a louça, era mais que justo,
depois dela ter feito todo o almoço. Eu disse, ‘lavo se você enxugar e guardar’.
Ela concordou. Enquanto lavava, enchi minhas mãos de água, sacudi em seu corpo...
A cozinha ficou totalmente molhada, parecíamos duas crianças. Mas nossos
momentos eram sempre marcantes e especiais. Depois arrumamos tudo e fomos ver
um filme de terror, terror não, eles eram muito óbvios, foi um de suspense, eram
nossos preferidos." (Carlos F. Jr.)
